terça-feira, 30 de junho de 2015

{Conto} A Menina do Brinco que não era de Pérola - Talita Camargos


Caro amigo,

Como vai?

O que temos pra hoje é o conto que ficou em 1º lugar no Concurso Contos em Cartas!




A Menina do Brinco que não era de Pérola
Talita Camargos

Aos 10 anos, Zeni já começou a brincar de gente grande. Na pequenina Capivari, povoado mineiro próximo a Bom Despacho, a menininha se viu sem o pai e com a mãe, D. Maria Francisca, sem forças. Ela fraquejou depois de ver o marido cair sem vida em seus braços. E olha que este triste acontecimento foi justamente no dia em que ele comprou alguns hectares de terra para a família, no cartório, quando ele foi assinar a escritura.
Desde então, Zeni passou a cuidar dos cinco irmãos mais novos e de tudo que cercava a casinha de pau a pique, já que eles nunca conseguiram colocar os pés nas terras que o pai havia comprado.
Em meio a panelas, vassouras e bundas de bebê, a dona de casa ainda encontrava tempo de se debruçar na janela para sonhar. Sonhava o impossível – queria rever o pai, pedia com todas as forças que tinha para ele aparecer, falava para Deus que nem iria se assustar com o fantasma dele. Um dia ela cansou de sonhar com o impossível, conformou-se, não sem saudade, e pediu apenas um brinco para enfeitar-se, dar um pouco de cor a sua própria existência.
“Não precisa ser de ouro, nem de prata, nem de bronze, nem pérola. Só quero um par de brincos para adornar as orelhas, como as mulheres e até meninas daqui fazem.”, dizia toda vez que se debruçava na janela.
Certo dia, andando entre as árvores, perto do rio, ela encontrou uma plantinha com uma frutinha esférica. O formato, só o formato, era muito parecido com as pérolas e contas coloridas que as moças usavam e ela sonhava, mas não tinha dinheiro para comprar. Ela então chegou mais perto, sem medo, observou bem a frutinha e viu que uma fina camada protegia a bolinha que estava lá dentro. Retirou aquela película, notou que havia uma espécie de cola e pensou que podia grudar aquela esfera na orelha. Assim ela fez. O brinco durava alguns dias, uns três talvez. Sempre que murchava, Zeni colhia um novo par de brincos.
Num dia de festa, um aniversário de criança no povoado, ela fez até um colar, com dez bolinhas daquelas. Nenhuma menina, moça ou mulher tinha joias iguais às dela.
Por isso mesmo, Rita, uma bela moça do povoado, notou as bijouterias de Zeni. Ao conhecer a história dos enfeites da menina, ela ficou maravilhada com tamanha criatividade e também gostou da menininha. Assim, ela que tinha inúmeras joias, decidiu presenteá-la com um par de brincos de pérola.
“Mocinha, amanhã quero que passe na minha casa, tenho um presente para você,  brincos tão bonitos quanto esses que você usa agora”, disse Rita.
"Moça com brinco de pérola", Jan Vermeer.
Zeni perdeu o sono de tanta felicidade. Também perdeu as contas dos carneirinhos que contou para adormecer. No fim da noite – quase dia – ela conseguiu pegar no sono. Porém, não dormiu tantas horas quanto precisava e bocejou durante o dia todo, tinha que terminar as tarefas de casa para buscar os brincos de pérola. Mas o sono era bem menor do que a vontade de acabar tudo.
Quando o sol se pôs, a casa estava limpa, os irmãos alimentados, ela foi, então, à casa de Rita.
“Aqui estão menina, o que acha, gostou?”, disse
“Nossa, é pérola mesmo, vou colocar agora. Obrigada, Rita!”
E a menina encaixou o brinco em um furo que foi feito quando ela nasceu. Olhava no espelho a cada minuto, maravilhada. No entanto, no outro dia Zeni não aguentava de dor. A orelha estava cheia de pus e muito avermelhada. Doía muito, muito mesmo. Ela começou a chorar, mais por ter que tirar os brincos do que pelo quanto doía. A orelha parou de doer em alguns dias, mas para Zeni doloroso era pensar que ela nunca mais poderia usar as pérolas.
Até hoje, com mais de 70 anos, ela conta esta história e mostra os brincos de pérola guardados como lembrança. Na orelha, ela continua a colocar os brincos que são colhidos em uma pequena árvore que dá frutos na beira do rio, o de pérola fica guardado em uma caixinha. O pai, que nunca apareceu para ela, sempre esteve presente, na memória e no coração.

Sobre a autora:
Talita Camargos, 27 anos, jornalista e trabalha como diretora de redação em Divinópolis-MG. É autora do blog Texto do Dia, onde posta seus contos e história.
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Eu amei a pureza do conto e a narração leve e objetiva. Não fui eu que escolhi os contos, mas li todos e concordei muito com a escolha deste como primeiro lugar no concurso.

É isso. Espero que tenha gostado.

Um abraço.
Markus A.

17 comentários:

  1. Oi Markus, tudo bem ???
    Estou aqui de frente para a tela do computador, e a verdade é que não sei muito bem o que dizer. Que texto maravilhoso !!!
    Adorei a forma como a Talita conduziu a história. É um texto muito leve, gracioso e belo. Fiquei contente por saber que ela ganhou o primeiro lugar, o texto é muito bom !!!

    Beijinhos
    Hear the Bells

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  2. Oi Markus!
    Que belo conto. Parabens *-*

    Abraços
    David Andrade
    http://www.olimpicoliterario.com/

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  3. Oi Markus! Realmente o primeiro lugar é merecido! Adorei o conto, simples e cativante!

    Beijos
    albumdeleitura.blogspot.com.br

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  4. Oi Markus!
    Adorei o conto, a forma como foi escrito é cativante. :)
    beijos ♥
    nuclear--story.blogspot.com

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  5. É lindo...mas achei tão triste! hehehe
    Adorei teu blog Markus, já estou seguindo!
    beijinhos
    www.wonderbooksdaalice.com

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  6. Oie,
    Não sei o motivo, mas amei o titulo, ele realmente chama atenção.
    O Conto é realmente maravilhoso, o primeiro lugar foi merecido!

    Beijos,
    Juh
    http://umminutoumlivro.blogspot.com.br/

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  7. Olá!
    O titulo e o conto são fantasticos, não é atoa que ganhou o primeiro lugar!
    Sem palavras pra descrever, gostei muito!
    Beijos, Tabatha
    http://aproveiteolivro.blogspot.com.br/

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  8. OI Markus;
    Concordo com sua opinião sobre o conto, realmente é bem direto, mas nem por isso deixa de ser bom. Foi uma ótima escolha.

    Abraços e bom final de semana.
    http://cabinedeleitura1.blogspot.com.br/2015/07/cronica-carta-que-nunca-mandei-que.html#more

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    1. Também acho que foi uma ótima escolha! haha
      Abraçoo

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  9. Adorei o conto. O jeito inocente e sonhador da Zeni me lembrou algumas histórias infantis que já li. Parabéns a autora. Primeiro lugar bem merecido.

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