{Resenha} Capitães da Areia - Jorge Amado

Caro amigo,

Como vai?
Hoje eu trouxe uma resenha feita pela minha amiga/parceira, Sarah. Se você acompanha o blog há mais tempo, já deve ter visto alguma resenha dela aqui. Eu amo as resenhas que ela escreve, porque ela disserta de uma forma tão linda, que dá gosto de ler!
Então, vamos lá. A resenha de hoje é do livro Capitães DA Areia, clássico , por Jorge Amado.

Vamos lá?

Dados do livro (essa edição):
Páginas: 280
Ano: 2009
Editora: Companhia de Bolso

Sinopse: Capitães da Areia, a história crua e comovente de meninos pobres que moram num trapiche em Salvador e clássico absoluto dos livros sobre a infância abandonada, assombrou e encantou várias gerações de leitores e permanece hoje tão atual quanto na época em que foi escrito.

Resenha:

Querido leitor, 

Admito que como um ser humano bem típico, tenho tendência à preconceitos. No caso literário, intolerância com obras nacionais e principalmente "clássicas". Não é como se eu não tenha lido e intrigado-me com o famoso "Dom Casmurro", ou não adorasse de paixão um romance como "Escrava Isaura". Apenas necessito de "empurrãozinhos"... 

Semanas passadas, em um intervalo entre os estudos, fui pesquisar sobre obras que possam ajudar de alguma forma no Enem. Dentro da lista havia "Capitães da Areia" que por alto presumi em minha ignorância, que com certeza, a obra refletiria algo como fome nos sertões brasileiros ou, pior, personagem nacionalista piradinho da Silva!

Oh, como é bom se enganar as vezes, não?

Por obra do destino, esse livro começou a aparecer toda vez que eu ia à biblioteca. Até que um dia como outro qualquer, eu acordei decidida a pegá-lo.

Capitães da Areia do reconhecido Jorge Amado é simplesmente um dos meus livros favoritos agora! Entrou para a lista dos desejados e ocupou um lugar mais que profundo em meu coração... Quem me conhece sabe muito bem que isso não acontece com frequência. (Nota do Markus: Não acontece mesmo)

Bom, querido-pobre-leitor que chegou até aqui, talvez clássicos não seja seu forte. Talvez você já tenha lido e está exclusivamente a espera das minhas opiniões condizerem com as suas. Quem sabe, não? 

"A liberdade é como o sol. É o bem maior do mundo"

Na verdade, gostaria de começar (finalmente) dizendo que, talvez, assim como eu, você goste de uma boa leitura de fantasias loucas, dragões, bichos esquisitos, perseguições, irmandades inimigas, mundos distintos e personagens que superam todas as benditas barreiras que são colocadas a sua frente... Sim, esse tipo de leitura me atrai como goiabada chama queijo. Entretanto, ler algo mais real, algo que reflita nos dias atuais mesmo após tantos anos de publicação seja bacana também... Afinal, é cientificamente comprovado que mesmice é um dos principais fatores do Alzheimer.

Capitães da Areia é o nome dado a um grupo bem grande de garotos sem pai, sem mãe, sem casa, sem carinho, sem comida ou qualquer outro direito garantido na Constituição desde 1988. Na visão da sociedade, por outro lado, eles são apenas um bando de delinquentes que furtam: uns meros desocupados que deveria residir em um reformatório ou na prisão. "(...) os Capitães de Areia eram como homens, iguais a homens. Amavam e derrubavam negras no areal desde cedo, furtavam para viver como os ladrões da cidade. Por vezes, assaltavam de armas na mão como os mais temidos bandidos da Bahia. Sempre tinham sido como homens, na sua vida de miséria e de aventura, nunca tinham sido perfeitamente crianças."

Para quem não leu: não seja pretensioso assim como eu a achar que o livro é pura violência. Não, não e não. Essa obra remete a mais profunda alma humana. Trata-se de crianças na margem da sociedade, sem ninguém, que por conta da desigualdade e precariedade de recursos auxiliadores, foram obrigados a crescer muito antes da hora e cuidar um dos outros. 

"(...) Aprendeu que as crianças pobres são desgraçadas em toda parte, que os ricos perseguem e mandam em toda parte." Mostra a desigualdade, as luxurias da classe A, o tenentismo, Cangaço, ordem de uma classe trabalhadora que exige direitos, mortes por conta de epidemias. Todas as consequências foram colhidas pelas meras crianças que nada tinham a ver com aquilo. Contudo, nem tudo se mostra perdido por completo. Há pessoas boas na trajetória dos meninos, como o Padre que era repreendido por ajudá-los, o trabalhador do cais e a mãe-de-santo. 

De um modo geral, Capitães da Areia é um romance sobre o desamparo e abandono de crianças, independente da raça. No grupo, há tanto personagens louros, assim como nordestinos e até filho de estrangeiros. 

"É como se corresse sobre o mar para as estrelas, na mais maravilhosa viagem do mundo"

Do imenso grupo de mais de cem que dormia no trapiche abandonado da praia, meus favoritos são:

Pedro Bala: O líder. É respeitado pelo restante. É astuto e sozinho no mundo desde que o pai morrera fazendo greve. Ele não tem uma história exata antes de ingressar nos Capitães da Areia, mas se mostra um ótimo garoto durante o percurso da história. Tive vontade de abraçá-lo, de adotá-lo e procurar uma certa estrela no céu...

Professor: Ele furtava livros e passava a noite a ler com a ajuda de uma vela. Ganhava dinheiro desenhando pessoas no chão. Verdadeiras obras de arte!

Sem-Pernas: Aleijado (coxo), usava suas limitações para comover senhoras que lhe davam abrigo temporário. Tempo o suficiente para o garoto descobrir onde ficava os objetos de valor e depois, juntamente com o bando, furtá-los. 

Vida Seca é um menino do sertão, que diz ser afilhado de Lampião e o adora de paixão. Ele sonha em entrar para o grupo do Cangaço quando for "grande" e vingar a morte da mãe. 

Gato: esse tem estilo, por mais incrível que pareça! Desde cedo aprendeu a ser vigarista, a passar os outros para trás e arrancar dinheiro sem muita dificuldade. Esse não dormia no trapiche, pois teve um relacionamento duradouro com a prostituta Dalva e dormia na casa dela quase todas as noites.

Dora: a única garota do grupo entra bem mais tarde, após perder a mãe para a epidemia e atravessar a cidade juntamente com o irmão mais novo com  a finalidade de conseguir um emprego. Os garotos a acham e cuidam dela. Ela não era apenas uma menina. Era igual a eles. Participava dos furtos com satisfação e tinha o papel de mãezinha de alguns dos meninos abandonados, irmãnzinha de outros e noiva de um em específico... 

"Mesmo não sabendo o que era amor, sentia que era bom."

A história de todos eles é bem mais profunda, trágica e cheia de traumas do que eu deixo escapar... Os garotos sempre fora do campo de visão da elite, não eram ajudados pela grande maioria e muitas vezes repreendidos com violência. Desde aquela época há falhas na inclusão social e problematização dos jovens que vivem nas mazelas da sociedade. 

"Gostava de deixar a vida correr, sem se preocupar muito."

Talvez, mas só talvez, isso esteja meio sério... Gostaria de ressaltar que também se é possível sorrir, rir e ir para as nuvens com esse livro de Jorge Amado. Ele é muito mais do que consigo colocar em palavras. Ele é daquele tipo de toca os diferentes leitores de diversas maneiras. É "a" obra para sentir e refletir...

"Porque a revolução é uma pátria e uma família."

                                                                                                                               Abraços de areia, 

                                                                                                                                                                   Sarah Vargas